Cantei à terra minhas maiores dores de ter de escavar-te por noites e noites de não encontrar-te na noite das noites
Na entrada do parque desfiz-me de medo, palácio aberto, bandeira estendida, o rei está lá, entrei pois no parque, a via era solta, os machos mordidos buscavam consolo, cruzavam paralelos, cônicos, nada me tocou, dimensão em que não estava, a ordem dos discursos a mim não se esticava, Ort der Melodie, palco das melodias, vestido na capa, no sombreiro, no guarda-chuva encantado, entrei no cadafalso em que ainda havia luz, rompi a descortina separando-me do azougue porcelana em pétalas de luz, melodia ainda solta, cada passo, desconsolo,
outro havia no lugar do que havia de estar lá,
vias todas em sinfonia, sincronia, no outono, perto de um abismo raso, em que me rasgo, ordem dos que compõem os livros, patíbulo, crisântemo, matérias-primas entre si, da morte, odes máximas, feições de minotauro, bênçãos do rabi milagroso, ontonímias, metológicas, ordenança dos bem-aventurados, as tetas em fogo, rosáceas em que esmago meus dedos sem perfume, em busca daquilo, do palco, do outro em que sussurravam ruídos nobres, a corte inteira diante, no centro das praças todas, alguém me diga, aqui também, no centro das praças todas brasileiras há sempre um troço desses, um edifício, não sei nomeá-lo, antes faltassem-me os olhos que a palavra perseguida,
abro-me em faces novas, mas me sinto menos novo, águas que me passam múltiplas pois vapor, ordens que não condeno, cordões que ato em mim, atos em despedaços, aula de aviação, ontem eu era tudo, hoje, perdão.
domingo, 30 de outubro de 2011
CORETO (tentativa de recuperar um parque maçônico em Bruxelas)
Submarino
Pescaria de baleias
No deserto de Aral
Transplantando os abismos
Do meu mar ao teu
É que eu amo as profundezas onde nunca entra luz
Verídicos corais onde ancoro sem por que
Submarino me buscou
Não havia tripulantes
Só Orfeu, meu velho amante
Renascido neste mar
Submarino me buscou
Não havia tripulantes
Todos mortos desde antes
Dessa história começar
Os marujos são mariscos
Cuja casca se quebrou
Mergulhei de tal maneira
Quase um salto ornamental
O oceano é sobretudo meu abrigo nuclear
Onde escrevo melodias inspiradas em você
Submarino me buscou
Não havia tripulantes
Só Orfeu, meu velho amante
Renascido neste mar
Submarino me buscou
Não havia tripulantes
Todos mortos desde antes
Dessa história começar
Se navego é pois preciso
Uma hora descansar
Eu não tenho mais destino
Remo por remar
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Telescópio, Teoscópio, Teleoloscópio, Teleholoscópio
Revela no holofote o leão dos céus
Seus olhos são mentiras verdes plácidas
Me falta a coragem de jazer em paz
Eu vou atirar
À queima roupa
Vou me vingar
Do meu algoz
Tivesse o mero intento de me recompor
Escreveria um verso sem falar de amor
Renovaria as águas dessa correnteza
Entregaria a beleza inteira a seu dispor
Faria cianeto virar vinho
E ébrios gozaríamos sem pausa
Homero sempre quis abrir suas asinhas
Compor Alexandrinos para Prometeu
Voar até o fim do que chamamos Mundo
Roubar o fogo eterno e se aquecer no frio
Eu vou criar meu paraíso
E meus amigos não convidarei
Eu vou roubar dos céus o infinito
E o infinito, te prometo, não darei
Tivesse Homero intento de me recompor
Congelaria as águas dessa correnteza
Transformaria a beleza inteira em minha dor
Devolveria aos céus aquilo que roubei
Faria cianeto virar vinho
E ébrios nadaríamos sem asas
Um tempo de azulejos imemoriais
Achei um caramujo que se decompunha
Deitei em sua concha e descansei em paz
Buracos solidários deixam luz entrar
A luz revela cracas que me roem a pele
Entendo que a armadura viva jaz em mim
Não tenho pressa
O tempo é mudo pra quem viu a luz
No fim do túnel do meu telescópio
Constelação imensa, falsa cruz
Congelaria as águas em que escorre o mundo
Retomaria um texto que abandonei
Entregaria o manuscrito que por ora terminei
E ébrio voaria até o Sol