segunda-feira, 9 de maio de 2011

Entre as mãos

      Entre as mãos um

Corpo sólido
suspenso
perfeito em miniatura
ainda que derreta em fogo baixo
a resistência de uma

Pluma
caída
asa de pássaro negro
sobrevoou a vila
achando-a triste
não quis pousar
ainda que sua pluma
caída
pouse agora em minhas

Mãos
sem calos
sem pêlos
sem rugas
sem pintas
sem nada a oferecer
além de um pássaro morto
sustento seu corpo
perfeito em miniatura
dou-lhe abrigo e novo ninho
acaricio-lhe as plumas que
de baixa resistência
caem por entre os dedos
fico com seu corpo

Nu
depenado
mas perfeito em estrutura
os ossos da grossura
de um pedido
para que cessem os gritos
nos dias de chuva
pássaro que não pousa
tenho seu repouso

Entre as mãos

Meu Norte

Inseminou-me o céu azul
O vento flácido
O sopro frio que do Norte vem

Não desse Norte
De fogo árido
Não desse Norte
De fogo-fátuo
Areia e névoa
E fome e fome

Meu Norte é um outro
De azul beleza
Em sua frieza
Resido e penso
Profundo, inspiro
E encho o peito
De um gelo quente
Que faz sonhar

(Com o que sonho?
Com as aves migratórias num deserto imenso)