quarta-feira, 16 de maio de 2012

poema que escrevi agora

sinto um desejo
percussivo
nas entradas entre folhas entre juncos
te quero nas entradas por teus juncos
ancas de morte em
prosa
pálida
temos em comum
e já não temo a
menor falha
se o taco
tiver gosto de
presunto
te quero entre
quatro paredes
desarrumar a sua aura
bagunçar os teus cabelos
os teus conjuntos todos
furiosos
foscos

segunda-feira, 9 de abril de 2012

O que penduram nas varandas

Sinto a flor do
meu desejo penetrada feito anêmona
porque amar agora
e esquecer logo depois

então transcorre a revolução das anêmonas e eu fico órfão de holandas e
carente por canais
um barco sem a permissão de atravessar um rio
meu nome sem a certidão
mas enxergo até o final da rua
quebrar a expectativa com uma nova arquitetura
nos tijolos nas janelas no que penduram nas varandas

engolido pelo cadáver de uma baleia em Liège, tenho cinco minutos
para ver a praça em que um jovem como eu
fez um atentado
é uma graça
retorno à baleia e na banca de jornais vendem histórias em quadrinho em capa dura:
"notes de jérusalem" e "les derniers jours de stefan zweig" me chamam a atenção
busco aquarelas de petrópolis
uma praia no brasil
onde estou

benjamin se engana
somos todos narradores

o canal de sucção entumescido, poroso, espojoso, com tudo a que tem direito, no fundo do fundo do mar
margens de rios onde a polícia planta cadáveres de pessoas para brincar de História

atentado nos mantém
vivos mas sem
afirmar a vida

uma baleia inteiramente descascada
e morada de cracas feito
escultura de cobre pós-décadas submarinas
com algas
o descasque ao limite do osso
que sedimenta, decaindo
e é branco como se nada fosse.

Arraia da Lívia

Rios rasos e arraias correm
nele, em retas, em raias.
Do topo das palafitas
Os turistas
Olham.

domingo, 8 de abril de 2012

poema para meu pai

É fato consumado entre eu e as estrelas que me movo até paris na sexta-feira,

Meu corpo a experimentar a anarquia, sucursal de todos aqueles feitos rasgos, sem citizenship, com citizenship, um barco de refugiados e benjamin não está nele, um homem sem estado preso em paris e retorna a paris, três meses depois, minha viagem nem leva dois, já me sinto eternamente europa, me permito promenades ferroviárias sem destino absoluto, sugestões, caudas de bichos, léguas, visita de poucas horas a bruxelas, refugiados occupying a estação de trem, que limpeza na alemanha, bruxelas parece viva, bruxelas parece crise, mas como esteta sinto raiva do marxismo cultural nos exatos termos de breivik, deus esteja, ao mesmo tempo em que me emociono com o benjamin interessado - que me internou, que me escutou - no escritor como artesão, recurso à fala, praxis, experiência, isto é língua portuguesa, penso em kafka em tel aviv e como os garçons de israel em nada se pareciam com ele, eram ríspidos e burocráticos, para israel que está a quatro horas de colônia kafka e benjamin teriam sido a redenção, experiência na pobreza, meu crédito ainda cheio por estimular clitóris invisíveis, moluscos solícitos da minha família, este anti-tecnicismo de ambos, este heideggerianismo pós-45, fellow-traveller, a mea-culpa do grass, a culpa agora é do günter, acho que entendo meu pai,

Em constelação com as demais estrelas, adoto um sentido prático profundo, uma rotina de não estar em casa, de embebedar-me rápido demais para que me torne alcólatra, de ler mais nos rostos das pessoas e nos nomes das estações do que nos livros, estou sendo cínico, eu estou sozinho, mas espero que marchem comigo, rastejem comigo, superfícies estimulantes, nada de vil em rastejar, é o mais nobre dos movimentos, maior a superfície da pele, maior a superfície do solo,

Prezo pelo contato,

Mas quanto desvio quando me pedem para explicar o brasil a uma escola de alemães e os mais interessados são os filhos os netos dos turcos, e qual é a redenção quando à noite, madrugada de insônia em bruxelas, quatro horas de sono em que poderia estar em tel aviv, o quê, quem disse isso, acordo de sonhos perturbados metamorfoseado em gush emunim e percebo uma escamação violenta em todo o lado esquerdo do meu saco e penso "estes turcos são a teologia, as crianças são anões", eu jogo xadrês com os descendentes diretos dos vikings e tenho pena da turquinha que está apaixonada pela alemã que também está apaixonada,

E falo para meus últimos familiares judeus remanescentes neste velho continente sobre as últimas conquistas, como tenho me deslocado, se tenho me alimentado bem, a falta que me faz um buffet de self-service e como tenho tentado substituir isto por mulheres, desloco-me na livre circulação de pessoas e bens que ganhei com a wiedergutmachung, e nos presenteamos mutuamente, o que ganhei de alguém darei a outro, uma caixa de bonbons, por exemplo, seguramente não morrerá em minhas mãos, e que proveito tem tido meu corpo com isso,

"O fato da partícula nobre (quântica) não quer dizer que ela seja nobre, apenas se refere a uma propriedade de terra, uma região de origem", e também "nós, walter, descendemos do maimônides, e você tem no sobrenome bruch este acrônimo do rabi akiva", e eles acham que isto é muito, e eles acham que isso é pouco, mas por mais que rebe shimon seu discípulo seja uma figura meio zaratustra e eu tenha gostado de uma auto-imagem heremita-nômade, a veia mais grossa que agora pulsa tem sido a terra, por isso disse para von wedel "que engraçados os alemães, acreditarem que os nomes designam lugares", e a voz do trem disse "o nome de sua estação" e ela desceu em sua estação, e eu, sem maiores compromissos, digeri aquele beijo até a estação final, Wannsee.

quinta-feira, 22 de março de 2012

desmesura de segall

incerteza do verniz, camadas novas, repensando o espaçamento por minutos arejados, perfeições ejaculantes nas paredes, pedras de montar asilos, par de esculturas a caber na mala, negação do conceito do exílio, belas gravuras, traduções de saudades existem sim, mas em menos abundância, reflorestar a incongruência de cismar em sobrepor escalas, ter de furar os olhos, rafaelitas de alpargatas, peças polonesas, polonèses sonolentas, pouca ajuda, muita
pressa, farejar um cheiro, emprestar palavras, apreensão de barbarismos, mas andando e amolecendo escadas,
amolecendo a língua, sintetizando, a dormência que é precisa, acordar sem nem saber o quando, desmentir distância, vida fala.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

lorelei 1938

a história lavada a seco
é por isso que antuérpia me esmaga os dedos
me nega suas manhãs
me esmaga entre os becos
emagrece meu desejo
alfinete no meu peito
pendurando pendurâncias
não fotografe meu barco, não
que língua se falava em antuérpia
todos eram mudos
os lábios costurados
costura de anzol
porto afinal
a história levada a sério
ir embora no melhor da festa
a vida se alimenta de destroços, disse günter grass, ou era a literatura? que me importa
se já é bastante noite
tenho sono o dia todo
e as festas nunca acabam
sair desta é entrar naquela
e não são precisos mais que alguns passos, um desequilíbrio, um reerguer-se de humildade, e se aprende a nova dança
entâo alguém me explica, nesta ordem: o sacrifício de tarkovski, o anticristo de lars von trier e o eterno retorno de deleuze
só notícias muito boas
alguém se despede de mim

macau

mentalizo a disjunção de entregas
atado e vendado e sem
cachecol
levítico entre os trópicos
revezamento de hemisférios
são
órbitas que me integralizam a centros
movediços e levito por lápides e horas e rostos e ruas
facilmente deslizando neste gelo
enfrentar o deslize é
enfeitá-lo de acrobacias

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Nos pântanos

Nos pântanos em que mergulhei as pontas dos pés minhas unhas caíram, as unhas dos pés, e eu percorri sem unhas os meadows entre os swamps, desenhando círculos de sangue na grama, até que me lembrei de minhas mãos e com os dedos das mãos em garra resolvi buscar minhas unhas perdidas no meio do piche, e também as unhas dos dedos das mãos ficaram presas no piche, e eu tive raiva do pântano e rezei para que surgisse do alto daquela montanha ou a bordo de um bote inflável junto com aquelas ondas uma multidão de descamisados, descamisados não porque tivessem calor, mas porque suas roupas com o calor viraram trapos, e o que sobrou dos trapos se grudou à pele e virou uma segunda pele, cobrindo às vezes um peito, um ombro, uma costela, a multidão dos descamisados ocasionalmente cobertos por um trapo que é a lembrança do que um dia vestiram drenaria para mim os poços e construiria nesta duna um porto que, além de receber outras multidões, agora melhor vestidas, também exportaria o petróleo extraído destes pântanos de piche, pois em minha fantasia, tudo o que é líquido e preto é petróleo, é piche, é coca-cola, é sundae de chocolate amargo, é bile, e com o dinheiro arrecadado compraria novas unhas e as pintaria de preto na manicure, dia-sim, dia-não.