segunda-feira, 9 de abril de 2012

O que penduram nas varandas

Sinto a flor do
meu desejo penetrada feito anêmona
porque amar agora
e esquecer logo depois

então transcorre a revolução das anêmonas e eu fico órfão de holandas e
carente por canais
um barco sem a permissão de atravessar um rio
meu nome sem a certidão
mas enxergo até o final da rua
quebrar a expectativa com uma nova arquitetura
nos tijolos nas janelas no que penduram nas varandas

engolido pelo cadáver de uma baleia em Liège, tenho cinco minutos
para ver a praça em que um jovem como eu
fez um atentado
é uma graça
retorno à baleia e na banca de jornais vendem histórias em quadrinho em capa dura:
"notes de jérusalem" e "les derniers jours de stefan zweig" me chamam a atenção
busco aquarelas de petrópolis
uma praia no brasil
onde estou

benjamin se engana
somos todos narradores

o canal de sucção entumescido, poroso, espojoso, com tudo a que tem direito, no fundo do fundo do mar
margens de rios onde a polícia planta cadáveres de pessoas para brincar de História

atentado nos mantém
vivos mas sem
afirmar a vida

uma baleia inteiramente descascada
e morada de cracas feito
escultura de cobre pós-décadas submarinas
com algas
o descasque ao limite do osso
que sedimenta, decaindo
e é branco como se nada fosse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário