terça-feira, 11 de outubro de 2011

Telescópio, Teoscópio, Teleoloscópio, Teleholoscópio


Mirante-telescópio, dá-me a luz de cima
Revela no holofote o leão dos céus
Seus olhos são mentiras verdes plácidas
Me falta a coragem de jazer em paz

Eu vou atirar
À queima roupa
Vou me vingar
Do meu algoz

Tivesse o mero intento de me recompor
Escreveria um verso sem falar de amor
Renovaria as águas dessa correnteza
Entregaria a beleza inteira a seu dispor

Faria cianeto virar vinho
E ébrios gozaríamos sem pausa

Homero sempre quis abrir suas asinhas
Compor Alexandrinos para Prometeu
Voar até o fim do que chamamos Mundo
Roubar o fogo eterno e se aquecer no frio

Eu vou criar meu paraíso
E meus amigos não convidarei
Eu vou roubar dos céus o infinito
E o infinito, te prometo, não darei

Tivesse Homero intento de me recompor
Congelaria as águas dessa correnteza
Transformaria a beleza inteira em minha dor
Devolveria aos céus aquilo que roubei

Faria cianeto virar vinho
E ébrios nadaríamos sem asas

Busquei no oceano constelado aviso
Um tempo de azulejos imemoriais
Achei um caramujo que se decompunha
Deitei em sua concha e descansei em paz

Fabrico agora a casca que me prende à rocha
Buracos solidários deixam luz entrar
A luz revela cracas que me roem a pele
Entendo que a armadura viva jaz em mim

Vou devagar
Não tenho pressa
O tempo é mudo pra quem viu a luz
No fim do túnel do meu telescópio
Constelação imensa, falsa cruz

Tivesse o tempo livre por alguns segundos
Congelaria as águas em que escorre o mundo
Retomaria um texto que abandonei
Entregaria o manuscrito que por ora terminei

Faria cianeto virar vinho
E ébrio voaria até o Sol

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